terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Orifício

Era sempre assim. Eu chegava e ele continuava a “teclar” com meninas mais bonitas e provavelmente bem mais interessantes do que eu. Depois de um tempo engolindo moscas e tentando matar Pernilongos Fêmea, ele chegava perto de mim, exibia seu belo corpo moreno, tirava meus sapatos, ria das minhas meias, do meu cabelo, do amor que eu sentia, fazia graça enquanto tirava minha roupa, ria do meu corpo, do meu mau humor, do meu sexo. Eu não falava nada.

Disse que estava sem TV a cabo – como se eu ligasse para isso – e apenas três canais estavam pegando, um só de propagandas, um daqueles tantos de putaria e a Rede Globo de televisão. Quase tive uma overdose de propagandas ...

Enquanto ele me masturbava e eu fingia excitação, pensava na funcionalidade da televisão para dois. Cheguei na frigida conclusão que ela era a companhia que um não conseguia fazer ao outro.

...

Ele gozava e dormia. Eu também dormia. Às vezes acordava com os espasmos dele e ficava ali quietinha sentindo sua respiração bater no meu rosto. Dormia.

Eu juro que não compreendia, mas estar ali me deixava feliz. Os todos e contudo não eram problema para mim, porém eu sempre mudava de idéia.


A cada passo da despedida um pedaço ficava de mim. Eu não sabia quanto tempo faltava para voltar ou se iria voltar. Depois sozinha eu era apenas um corpo sem alma, um blues sem madrugada, um amor sem amor, uma Yoko sem Lennon.

Um comentário:

Arê disse...

Nho... minha escritora...

Lendo esse texto eu tentei me por no lugar dela... o que acho que ela precisava era senti-lo, sublimamente, e talvez só fosse possivel qnd ele dormindo respirava ao lado dela...