terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Amarelo Escuro

Sábado me dá a impressão de que tem algo faltando, antes mesmo de novamente e novamente ele chegar. Sempre aquela mesma impressão de que eu deveria estar esperando, e espero com preguiça o dia passar.

O play faz começar de novo a vida de Alice, Dan, Anna e Larry. Ás vezes eu só queria alguém para me tacar o travesseiro ao me ver sonolenta, alguém para ocupar o espaço que sobra no sofá. Mas, o choro insiste em ser meu câncer enquanto só queria dizer que sinto saudade. Amar não faz com que as pessoas fiquem ao nosso lado e não percebi isso quando fui eu que parti mas, quando me deixaram.

Depois de tanto não gostar, melão aguçou meu paladar. Ele virou todas as possibilidades para não lembrar e fugindo das lembranças me transformei em alguém que não queria, em alguém que não suporto, sempre falando e apontando para o mesmo lugar.

A cerveja esquenta sem alguém para brindar. Sem alguém que me leve para qualquer canto e deixa o café esfriar. Ainda ouço as duras palavras abrindo a ferida. Tem certas coisas que a gente jura que não merecia ...

Os dias passam e aqui o que vejo envelhecer são apenas os livros na estante.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Corisco

Susi tem alguém para esquecer. Não que o fato de ter, quer dizer que vá ou que queira. Quando a encontrei uma valsa percorria por si, e essa maldita valsa ainda toca em seu estômago. As voltas e os postes não são os mesmos mas, por mais que eu tente ainda vê em mim aquela que lhe aperta a saudade.

Fiquei pálida quando a ouvi dizer que não queria mais, senti meu mundo se transformar numa bolha de sabão. De repente virei apenas a garota das terças-feiras. Vi Susi estremecer, tantas vezes disse adeus mas, não soltava minha mão.

Não tinha mais a risada divertida, sua impressão se arrastava por todos os cantos, se arrastou por tantos dias ...

Quando Oswaldo disse “metade de mim é saudade e a outra metade partida” entre tantas outras coisas, eu acreditei. Mas, ela deixava minas terrestres pelo caminho e eram meus sonhos que explodiam. Então, metade de mim foi partida e a outra também. Como eu queria que ele estivesse certo, que minhas metades, assim como as dele, fossem apenas amor.

Susi sempre borrava as cores de sua vida. Perdia-se, sujava-se e eu não podia, não queria suportar o peso de outros corpos que ela carregava. Dizia, como justificativa, que era de peixes. Decidiu uma vez me mostrar suas tranqueiras e eu a aceitei assim, com todas elas ...

Eu dizia não, querendo dizer sim. Para mim, ela não era apenas uma menina bonita e ia bem mais além de uma viciada bissexual ...

E disse que não tinha certeza se queria vê-la novamente e desejava que ela não aparecesse. Essa foi a única e a maneira mais idiota que encontrei para dizer que sentia saudade, que tantas coisas já não faziam mais sentido ...

- Será que realmente não conseguimos?

Estar perto de Susi me deixa feliz e não tem um dia desde que a conheci que não tenha pensado nela.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Talharim ao molho quatro queijos

Jhonny cheirou de novo. Prometeu que não ia mais fazer isso. Aposto que aquela bicha gosta é mesmo de dar a bunda. Qualquer dia vai morrer com um dos seus ataques de renite. O pior é que ver seu nariz coçar, faz coçar o meu também.

Às vezes eu só queria alguém por perto para meu ouvir dizer: - Cara, eu não tô legal ...

Gostava das nossas horas de silêncio, era o momento em que nos entendíamos, éramos sinceros, intensos. Agora que ele não está mais por perto, é difícil não pensar que estou sozinha.

Devagar. Devagar.

Aprendi a ser triste com ele, a ter fome, sede, aprendi a esquecer ...
Jhonny me achava e de tantas que havia em mim, perdia-me de novo. Ele não se importava em perguntar quantas vezes fossem preciso até eu estar à vontade para responder que não estava bem. Respondia, mas ele estava tão preocupado com suas dores que não podia me ouvir.

Caí. Ainda pego o porco que me ofereceu Canelinha. Odeio canela! Quando acordei ele estava caído do meu lado. Não sei quanto tempo passou e também não faz diferença, eu só queria ir embora.

E depois de tanto tempo eu só precisava saber como Jhonny está ...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Teleférico

Que mania essa cidade tem de chover. Até parece provocação.

Polenta frita não tem tanta graça sem as vestes de Monalisa por perto, talvez nada tenha. Ela foi viajar e mesmo dizendo que não vinha, esperei ...

Monalisa me irritava tanto, falava muito alto e enfeitava a boca para falar. Mas, foi assim que me apaixonei por ela, às vezes chegava até babar de tanto bico que fazia.

Voltou bronzeada de um jeito que nem podia tocar, eu acho. Desde então, de tanta saudade criei uma vida para ela.

Peguei o costume de me ligar para abafar o silêncio sufocante ou só para constatar se realmente o telefone estava funcionando. Vai que, de repente, ela liga e acha que eu que não quero falar. Não ligou!

Deu-me apenas um beijo na vida - um tanto sem graça, cheio de pudor, encanto e medo. Não deixou de ser mulher, mas me deixou.

Monalisa decidiu casar. Não me feriu. A falta que eu sentia já fazia parte dos meus dias e não me importava mais se ela ia ligar.

Pensei que ela também tinha se cansado daqueles que trepam, depois chamam por outro nome. De tantos, nem os respingos de amor me restaram.

Monalisa teve sorte e eu me tornei mais um desses caras que sobram na vida ...

domingo, 9 de dezembro de 2007

com saudade do Marvin

Quando contaram me arranhei para acordar. A boca abre, mas as palavras não saem. De repente o céu ficou negro e foi chover em outro lugar.

Marvin era o beijo estalado na minha bochecha, era o bagunçado do meu cabelo. Chegou sorrindo. Não disse oi. Não perguntou como eu estava. Não disse nada.

Ele não estava bem. Falava que queriam aprisionar seu pensamento. Eu o vi correndo, pulando o muro e embaixo da cama do Rony gritava com medo e implorava para não deixarem lhe pergar.

Tantos dias foram eternos sem ele perto de mim. Afoguei-me em braços e me esfreguei em pêlos que não eram de Marvin.

Encontrei-o perdido. Soluçava sem os sentidos da razão e esmagava meus caramujos achando que eram os seus. Rasgava-me e depois dizia que queria estar no meu corpo, no lugar da minha alma até a dor passar.

Quando aos 16 acendeu a luz ao meio dia, já não me amava mais e não sei se um dia amou. Marvin se tornou o argumento mais próximo para minha solidão, a grama gasta do meu quintal.

Eu não sabia onde encontrá-lo e mesmo que eu gritasse me disseram que agora não adianta mais chamar. Decidiram por ele. Marvin morreu! E ele foi embora como quem diz que vai ao banheiro e não volta.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Orifício

Era sempre assim. Eu chegava e ele continuava a “teclar” com meninas mais bonitas e provavelmente bem mais interessantes do que eu. Depois de um tempo engolindo moscas e tentando matar Pernilongos Fêmea, ele chegava perto de mim, exibia seu belo corpo moreno, tirava meus sapatos, ria das minhas meias, do meu cabelo, do amor que eu sentia, fazia graça enquanto tirava minha roupa, ria do meu corpo, do meu mau humor, do meu sexo. Eu não falava nada.

Disse que estava sem TV a cabo – como se eu ligasse para isso – e apenas três canais estavam pegando, um só de propagandas, um daqueles tantos de putaria e a Rede Globo de televisão. Quase tive uma overdose de propagandas ...

Enquanto ele me masturbava e eu fingia excitação, pensava na funcionalidade da televisão para dois. Cheguei na frigida conclusão que ela era a companhia que um não conseguia fazer ao outro.

...

Ele gozava e dormia. Eu também dormia. Às vezes acordava com os espasmos dele e ficava ali quietinha sentindo sua respiração bater no meu rosto. Dormia.

Eu juro que não compreendia, mas estar ali me deixava feliz. Os todos e contudo não eram problema para mim, porém eu sempre mudava de idéia.


A cada passo da despedida um pedaço ficava de mim. Eu não sabia quanto tempo faltava para voltar ou se iria voltar. Depois sozinha eu era apenas um corpo sem alma, um blues sem madrugada, um amor sem amor, uma Yoko sem Lennon.